Percorrendo
nossa cidade, avistei um casal de origem nipônica com uma cuia na mão, não sei
se estavam tomando chimarrão ou tereré. Suponho que seja Tereré, pois era lá
pelas 15:00 horas. Em guarani a pronúncia e a escrita é Terere, fechado, pois a
última sílaba não é grafada quando é oxítona, ao contrário do português.
Tereré, assim acontece com todas as palavras guaranis, como pirapire, dinheiro,
errado escrever pirapirê.
Não era costume do branco tomar terere,
visto que era coisa de índio, mas como é uma cultura forte e boa, foi absorvida
por todos, independente da raça. Vemos assim hoje jovens, adultos e idosos com este
hábito e muitos brasileiros que partiram para outros continentes sempre cultuam
o terere onde está, cujas ervas são enviadas daqui, mas já são encontradas nos
supermercados da Europa e Ásia, principalmente.
Tereré é uma bebida feita
com a infusão da erva-mate (Ilex paraguariensis) de origem guarani. É consumida
com água ou limão, principalmente e também com sucos, hortelã (Mentha
arvensis), cedrón (Lippia citriodora), peperina hortelã, cocú (Allophyllus
edulis), entre outros.
Cuia de Chimarrão
Quanto ao Chimarrão ou mate, este último
termo era principalmente o nome que se dava e ainda se houve dentre os mais
antigos de nossa região. O chimarrão
(ou mate) é uma bebida
característica da cultura do sul da América do Sul, também um hábito legado pelas culturas indígenas quíchuas,
aimarás e guaranis. Ainda hoje, é hábito fortemente arraigado no sul do Brasil
parte da Bolívia, Chile, Uruguai, Paraguai, principalmente na Argentina, nos
estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Para tomá-lo precisa-se
de uma cuia, uma bomba, erva-mate moída e água morna.
O termo mate, como sinônimo de chimarrão, é mais utilizado nos países de
língua castelhana. “O termo "chimarrão" é o adotado no Brasil, embora
seja um termo oriundo da palavra castelhana cimarrón, que designa, por sua vez, o gado domesticado que
retornou ao estado de vida selvagem”. O chimarrão chegou a ser proibido no sul
do Brasil durante o século XVI, sendo considerada "erva do diabo"
pelos padres jesuítas. A partir do século XVII, os mesmos passaram a incentivar
seu uso com o objetivo de afastar as pessoas do álcool.”
Cuia é um termo, de origem Tupi, tem várias acepções. É
muito utilizada para fazer chimarrão e tereré. Diz-se que a origem da palavra
está no fato de existirem árvores produtoras de cuia à beira do rio, e que
"Cuiabá" seria "rio criador de vasilha" (cuia: vasilha e aba: criador). Conta-se também que
estava um índio à beira do rio com uma cuia na mão e que a mesma escapou-lhe e
foi pela correnteza, tendo o índio exclamado: Cuiabá, quis dizer cuia vai. São
contos, mas a mais correta seria rio
criador de vasilha.
Existe para o chimarrão vários tipos de
cuia. Meu avô materno, Mantilha Martins
(Vô Chiru) que nasceu em
São Borja-RS , dizia que os seus ancestrais contavam que
conforme era o tamanho do papo, era o tamanho da Cuia.
Avistamos o pessoal em Dourados, gaúchos de
origem italiana, alemã, ou os rio-grandenses e aqueles gaúchos do pelo grosso,
os chamados guascas, saboreando o chimarrão ou mate com os sul-mato-grossenses
e mato-grossenses, seus descendentes.
Hoje existem para
o Tererê ou Terere várias ervas com sabores diferentes. A erva-mate feita no
barbacuá é artesanal, de origem guarani, pura, mais grossa, socada no pilão,
que costumamos fazê-la em nossa propriedade com o auxílio dos índios da nossa
região. É muito forte e quem não está acostumado pode estranhar, pode-se utilizá-la
também para no preparo do chá no calor do fogão de lenha.
Dourados-MS, 15 de Março de 2012.
José Tibiriçá Martins Ferreira, advogado,
licenciado em Letras com Inglês, cursou o Idioma Guarani Ñandéva.